Passeio teve adequações neste momento de pandemia, mas segue trazendo a essência da cultura italiana a bordo do histórico trem a vapor
Igor Mallmann
A viagem ao passado é pontual. Às 14 horas, conforme descrito no bilhete, a locomotiva começa lentamente a colocar a composição de oito vagões em movimento. Da plataforma, um músico interpretando canções italianas acena para os passageiros, enquanto o Trem do Vinho vai deixando para trás a estação de Bento Gonçalves. A Maria Fumaça faz o trajeto Bento Gonçalves-Garibaldi-Carlos Barbosa. Com a pandemia, o passeio tem algumas restrições e cuidados, mas a experiência não perde seu valor.
Não há pressa nessa viagem. O trem se movimenta com elegância, variando de 20Km/h a 30Km/h, conforme informa a guia do vagão. Logo iniciam as degustações a bordo da Maria Fumaça. Vinhos e suco de uva de produção da região são oferecidos aos passageiros. O conforto é surpreendente, não há qualquer solavanco.
A composição férrea desliza com suavidade pelos trilhos, apesar de seu peso total de aproximadamente 300 toneladas. (Para efeito de comparação, na estrada, o peso total de uma carreta padrão puxada por cavalo mecânico gira em torno de 45 toneladas).
A linha ferroviária utilizada no passeio chegou a Carolos Barbosa em 1909, depois a Garibaldi em 1918 e a Bento Gonçalves em 1919. Em 1992, com os transportes de cargas e passageiros já desativados, a empresa Giordani Turismo começa a operar o passeio da Maria Fumaça.
A música não para
Depois que as garrafas de vinho e suco passam pelas taças dos passageiros, começam as apresentações musicais nos vagões. Canções tradicionais italianas e gaúchas são interpretadas por músicos devidamente ornamentados com vestimentas típicas – acrescidas, nesse período de pandemia, da máscara protetora. Mesmo sem o contato próximo como em tempos normais, os artistas conseguem cativar o público. De início um pouco tímida, a plateia se anima e logo bate palmas no ritmo das músicas.
Também ocorrem outras intervenções artísticas, que dialogam com os passageiros, propondo desafios e brincadeiras com pessoas escolhidas aleatoriamente.
Garibaldi
O trem faz uma parada em Garibaldi, onde os passageiros são recebidos na plataforma com mais música típica italiana. Lá é possível tirar fotos junto à locomotiva, ir ao banheiro, apreciar a apresentação musical e adquirir algum produto à venda.
A cidade leva o nome do casal de revolucionários Anita Garibaldi e Giuseppe Garibaldi, o quais lutaram em batalhas da Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, contra as forças imperiais do Brasil, e também no processo de unificação da Itália.
De volta ao vagão, vem mais degustação, agora de espumante, também de produção local. E, óbvio, surgem no vagão mais apresentações musicais ítalo-gaúchas. Ao longo do passeio, a guia responsável pelo vagão vai comunicando aos passageiros os pontos mais importantes pelos quais o trem passa, além de trazer curiosidades históricas sobre o transporte ferroviário e a imigração italiana à região da Serra Gaúcha.
Carlos Barbosa
O passeio de trem dura 1 hora e 30 minutos, percorrendo 23 Km. Descendo na plataforma da cidade de Carlos Barbosa, o visitante é recebido novamente com música. De lá, alguns ônibus aguardam para levar os passageiros de volta a Bento Gonçalves, onde ocorre o espetáculo da Epopeia Italiana. No parque cultural é possível conhecer a história do casal Lázaro e Rosa, imigrantes italianos que passaram inúmeras dificuldades ao chegar no Brasil.
O poder do vapor
A locomotiva precisa ser acesa duas horas antes do primeiro passeio do dia. O trem utiliza madeira de reflorestamento e os chamados briquetes (resíduos de madeira compactados). A queima da madeira aquece a água gerando vapor, o qual é direcionado ao cilindro. A pressão gerada pela entrada do vapor no cilindro empurra o pistão, provocando o movimento das rodas da locomotiva.
Precauções contra a Covid-19
Como todas as outras atividades, o passeio de Maria Fumaça também está um pouco diferente nesse período de pandemia. Para garantir a segurança dos passageiros e equipe, a operação da Maria Fumaça acontece com redução de 50% da capacidade. Há álcool gel nas plataformas e vagões. A máscara é obrigatória e a temperatura das pessoas é medida antes mesmo de entrar na estação para embarque. Sucos, vinhos e espumantes, antes oferecidos nas Estações de Bento Gonçalves e Garibaldi são realizados dentro dos vagões, para evitar circulação de pessoa e aglomerações.
A atração está recebendo periodicamente a sanitização Fip Onboard, tecnologia que desativa a ação de bactérias e vírus, inclusive o responsável pela transmissão da Covid-19.
Além disso a Maria Fumaça - Trem do Vinho tem o selo “Ambiente limpo e seguro”, iniciativa do Comitê Pró-Turismo, com vistorias regulares realizadas pela Secretaria Municipal de Turismo de Bento.
Confira mais informações sobre o passeio de Maria Fumaça, como horários e preços de ingresso, no site da Giordani Turismo.
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